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terça-feira, 29 de agosto de 2017

(Não) Estamos sozinhas/os. Ainda bem! (Zelinda Barros)

Estive num evento recentemente e, enquanto aguardávamos o início da cerimônia, comecei a conversar sobre amenidades com uma pessoa conhecida. Num dado momento, ela comentou sobre o episódio em que um homem negro, numa festa black, chegou acompanhado por uma mulher branca, com quem dançou animadamente, sem se preocupar com os olhares de reprovação. Essa mesma conhecida também comentou, indignada, sobre as mulheres negras que estavam com homens brancos na festa e chamou a ambos, negros e negras acompanhadas por brancas/os, de “palmiteiros”[1]. Não sei se ela não lembrava do fato ou queria apenas me provocar para que emitisse opinião, mas argumentei que eu mesma sou casada com um homem branco e que muitas mulheres negras não se relacionam com homens negros por falta de oportunidade, não por rejeição a esse tipo de relacionamento. E com a expressão “falta de oportunidade” não quero simplesmente afirmar que os homens negros rejeitam mulheres negras e preferem as brancas, como é comumente afirmado, como também apontar para a incompatibilidade de interesses, projetos, etc.

As narrativas sobre esses relacionamentos inter-raciais costumam ser, em grande parte, contaminadas pelos conceitos prévios de quem observa e se mostra pouquíssimo preocupado/a em saber como as pessoas envolvidas efetivamente pensam e vivem esses relacionamentos. Reconheço que o racismo faz com que muitas/os mulheres e homens negros deixem de ver a seu/sua “igual” como um par afetivo-sexual possível, mas há outros aspectos que precisam ser destacados, pois muitas opiniões a respeito, que faziam sentido em períodos anteriores, atualmente são insuficientes para dar conta de uma realidade que sofreu transformações ao longo das últimas décadas. Diante da importância deste assunto, não somente para as pessoas envolvidas num relacionamento deste tipo, mas para a sociedade como um todo, volto a propor uma reflexão sobre o tema, abordado na dissertação de Mestrado defendida por mim em 2003.

Ainda hoje há relacionamentos em que as pessoas têm seus papéis rigidamente definidos segundo o gênero, mas é necessário atentarmos para as transformações pelas quais passaram o casamento e os relacionamentos afetivo-sexuais nas últimas décadas, pois essas mudanças contribuíram sensivelmente para o modo como muitos relacionamentos, inclusive os inter-raciais, atualmente se estruturam.

Apesar do racismo e do patriarcado continuarem operantes, há casais que conseguem estabelecer uma relação em que a busca por igualdade é a tônica. A representação social de uma pessoa negra como um par indesejado, seja homem ou mulher cis ou trans, não está presente no relacionamento inter-racial assumido publicamente, o que faz com que esse tipo de união desafie o racismo, em vez de reiterá-lo. Uniões inter-raciais homoafetivas - ainda que muitas continuem reproduzindo o padrão heteronormativo, também desafiam os padrões de gênero e raciais socialmente impostos.

Não podemos desprezar a importância dos movimentos feministas (em suas mais diferentes expressões) na indução dessas mudanças. A defesa do direito ao livre exercício da sexualidade, da união por afinidade e do prazer sexual recíproco são elementos-chave em boa parte dos relacionamentos ocorridos na atualidade. A negociação entre os/as parceiros/as pode, inclusive, garantir a exigência ou não de fidelidade, que passou a valer para ambos, não somente para as mulheres. As escolhas afetivas deixaram de ser determinadas exclusivamente por imposições familiares e o constrangimento dessas escolhas pela raça é menor ou inexiste em alguns contextos, ainda que o racismo continue operando em nossa sociedade. A opção por permanecer sozinha/o, ou eventualmente acompanhada/o, também é algo bastante comum e valorizado contemporaneamente, e isso não necessariamente significa que a pessoa assim se comporta por ter sido desprezada como par. Para essas pessoas, vale o ditado: “Antes só do que mal acompanhada/o!”.

Enquanto o entendimento sobre as relações inter-raciais estiver marcado por uma perspectiva dicotômica, muito pouco contribuiremos para a luta antirracista. É reducionista a explicação dos relacionamentos inter-raciais como sendo motivada apenas por uma insatisfação do/a parceiro/a negro/a consigo próprio/a. Há negros e negras muito bem resolvidos em relação à sua negritude e que convivem com pessoas não-negras.

Desejar que as pessoas negras se reencontrem afetivamente e rompam com os grilhões impostos pelo racismo não requer uma abordagem monolítica e prescritiva, forma de considerar os relacionamentos que aprisiona os sujeitos e suas possibilidades de ação em esquemas previamente determinados. Além de autoritário, esse modo de enxergar a realidade limita as possibilidades de existência do ser humano negro, que já é tão afetada pelo racismo. Por outro lado, não podemos perder de vista que a união entre pessoas negras que se amam e se respeitam assume um caráter político importante na luta contra o racismo antinegro, pois reafirma a nossa capacidade de amar uns/umas aos/às outros/as e possibilita a construção de relações em que a empatia do par branco em relação ao racismo sofrido pelo par negro dá lugar ao compartilhamento da experiência vivida entre negros/as, que é um elemento poderoso na construção desse tipo de parceria.


[1] Termo pejorativo para usado por alguns/mas ativistas para denominar homens e mulheres negras que escolhem brancas/os como pares afetivo-sexuais

sexta-feira, 18 de agosto de 2017

Roda de conversa com juventude comemora 30 anos do CDCN - BA

O Conselho de Desenvolvimento da Comunidade Negra (CDCN) realiza na próxima segunda-feira (21), a partir das 14 horas, em Salvador, a roda de conversa “Diálogos com a juventude”, integrando a programação dos 30 anos do colegiado. O evento acontece no Centro Cultural Plataforma, reunindo conselheiros, militantes do movimento negro, jovens da região, além de representações governamentais. 

De maneira dinâmica e participativa, serão discutidos temas relacionados aos aspectos da cultura, educação, juventude, mulher negra, além da relação entre racismo e direito. Os debates serão intercalados com intervenções culturais das comunidades do entorno, além de apresentações de hip hop com o grupo Família Tríplice e MC Xarope. O evento conta com apoio das secretarias estaduais da Educação (SEC) e de Cultura (Secult), através do Centro Cultural Plataforma. 

Sobre o CDCN - Vinculado à Secretaria de Promoção da Igualdade Racial (Sepromi), o conselho tem caráter consultivo, formado por representantes do poder público e da sociedade civil. Tem por finalidade a formulação, proposição, controle social e acompanhamento de programas e políticas públicas de enfrentamento às desigualdades étnico-raciais no estado da Bahia.

Serviço:
O quê:  Roda de conversa “Diálogos com a juventude” – CDCN: 30 anos promovendo a igualdade. 
Quando: Segunda-feira, 21 de agosto de 2017, a partir das 14h.  
Onde: Centro Cultural Plataforma (Praça São Braz, s/nº, Plataforma – Salvador/BA).

Mais informações:
Assessoria de Comunicação - ASCOM
Secretaria de Promoção da Igualdade Racial (Sepromi)
Governo do Estado da Bahia
71 3103-1410 / 9 9983-9721

terça-feira, 8 de agosto de 2017

Mulheres negras serão homenageadas por Bira Corôa e Benedita da Silva na Assembleia Legistativa - BA


O deputado estadual Bira Corôa (PT), presidente da Comissão Especial de Promoção da Igualdade, receberá pela quarta vez a deputada federal Benedita da Silva (PT) para mais uma sessão de homenagens à mulheres negras por meio do Troféu Pérolas Negras. A honraria será entregue no próximo dia 11 de agosto, a partir das 9h, durante sessão especial, realizada na Assembleia Legislativa da Bahia. Em alusão ao 25 de Julho, Dia Internacional da Mulher Negra na América Latina e no Caribe e Dia Nacional de Tereza Benguela e da Mulher Negra, a quarta edição do Pérolas Negras, terá como tema central Os Desafios de Ser Mulher Negra na Década Internacional Afrodescendente. 

Nesta edição, as homenagens se estenderão a grupos, coletivos e instituições que dedicam suas atividades ao empoderamento de mulheres negras, tendo por base a qualidade de vida e a construção do bem viver dessas mulheres. A lista inclui, por exemplo, o Coletivo Angela Davis, o grupo Maria Felipa da PM-BA, Instituto Odara, Rede de Mulheres Negras da Bahia, entre outros.  

Criado em 2011, o Troféu Benedita da Silva – Pérolas Negras foi pensado enquanto referência ao Dia de 25 de julho, com o intuito de homenagear mulheres negras cujas histórias de vida se destacam no processo de transformação de suas próprias vidas, da vida de outras mulheres e de seu próprio tempo. Desde então, tornou-se símbolo de (re) conhecimento estadual dessas mulheres, imprescindíveis à construção de um mundo solidário, multiétnico e pluricultural. 

A criação do troféu é uma consequência positiva do trabalho iniciado em 2007 pelo deputado Bira Corôa, que, ao assumir os trabalhos da Comissão de Promoção da Igualdade, ampliou e fortaleceu, na Casa Legislativa, o diálogo e o debate sobre questões relacionadas às mulheres negras, suas subjetividades e modos de vida.  

Serviço:
O que: Sessão Especial com entrega do troféu Benedita da Silva - Pérolas Negras
Quando: 11 de agosto, sexta-feira, a partir das 9h
Onde: Plenário da Assembleia Legislativa da Bahia, CAB - Salvador

Aprendendo com as nossas mais velhas: Lélia Gonzalez


Aprendendo com as nossas mais velhas: Lélia Gonzalez