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quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Palestra com Sergio Carrara: Direitos Sexuais - RJ

O Laboratório de Teorias da Cultura (LTC), do Departamento de Sociologia e Política da PUC-RJ, promove, no dia 02/09/2011, às 11h, palestra com o coordenador-geral do Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos (CLAM/IMS/UERJ) Sergio Carrara. O tema do encontro será "Direitos Sexuais".
O evento ocorrerá na sala de Pós-Graduação do Depto. de Sociologia e Política (casa 18 da Vila dos Diretórios).
Para mais informações: (21) 3527-1555 / 3527-1556

IMS/UERJ - R. São Francisco Xavier, 524, 6º Andar, BL E-20550-013-Rio de Janeiro-RJ-Brasil-Tel:(21)2568-0599

terça-feira, 30 de agosto de 2011

A violência simbólica de gênero e a lei "antibaixaria" na Bahia

Cecilia M. B. Sardenberg
OBSERVE- Observatório de Monitoramento da Lei Maria da Penha
NEIM/UFBA


A polêmica atual instaurada em torno da constitucionalidade do Projeto de Lei no. 19.137/2011 (apelidada de lei "Antibaixaria") da Deputada Estadual Luiza Maia da Bahia, que dispõe sobre a não contratação, com verbas públicas, de artistas que degradem a imagem das mulheres, me faz voltar pouco  mais de vinte anos no tempo, mais precisamente aos fins dos anos 1980, quando da elaboração da Constituição do Estado da Bahia.  Naquela época, nós, feministas atuantes no Fórum de Mulheres de Salvador, nos reunimos várias vezes para discutir a inclusão de um capítulo específico sobre os direitos das mulheres na nova carta magna baiana.

Inspiradas pelos avanços conquistados por nós na Constituição Federal de 1988 com a mobilização de mulheres, em todo país, e, em especial, pelo  chamado "Lobby do Batom" - o lobby exercido diretamente junto aos deputados e deputadas constituintes -- ousamos ir além formulando uma proposta ainda mais progressista para a Bahia.  Dentre outras questões de interesse das mulheres, incluímos nessa proposta disposições sobre a prevenção da violência contra as mulheres e a obrigatoriedade de criação de delegacias especiais de atendimento às vítimas em cidades com mais de 50.000 habitantes, a proibição da exigência por parte de empregadores de comprovantes de esterilização das trabalhadoras, a criação de comissões especiais para monitorar as pesquisas no campo da reprodução humana, e - de interesse  especial para o momento -- o impedimento da veiculação de mensagens que aviltassem a imagem das mulheres.

Nossa ousadia se revelava, tanto no teor dessas propostas, quanto no fato de que, para defendê-las na Constituinte Estadual, contávamos apenas com a Deputada Amabília Almeida, a única mulher então exercendo mandato naquela casa.  Mas, nesse ponto, não havia o que temer.
Com muita diplomacia, a nossa querida Amabília, companheira de muitas  batalhas, conquistou mais aquela, logrando transformar nossas propostas em  princípios e leis sagradas na Constituição Estadual de 1989. Foi assim que a Bahia passou a ter uma das constituições mais avançadas do país no tocante aos direitos das mulheres.

Frente à citada polêmica em torno do Projeto de Lei da Deputada Luíza Maia, destaco aqui, em especial, o Art. 282 da Constituição Estadual, particularmente o inciso I, em que se afirma que o  Estado da Bahia "garantirá, perante a sociedade, a imagem social da mulher como mãe, trabalhadora e cidadã em igualdade de condições com o homem", objetivando - entre outras  questões, "impedir a veiculação de mensagens que atentem contra a dignidade da mulher, reforçando a discriminação sexual ou racial." Nesse artigo reside, sem sombra de dúvida, a constitucionalidade do Projeto de Lei "antibaixaria".  Aliás, ele vem com mais de vinte anos de atraso para regulamentar o que reza nossa Constituição desde 1989, como de resto ainda acontece com a maior parte de nossas conquistas nessa carta, que ainda aguarda regulamentação.

Em relação ao Art. 282, posso testemunhar que, já na década de 1980, ao propormos sua inclusão na Constituição da Bahia, tínhamos em mente, não apenas o  combate à constante veiculação de anúncios em jornais, outdoors e na mídia televisiva, que  em muito desmerecem, objetificam e assaltam moralmente a nós, mulheres, como também à cantigas que exemplificam, em suas letras, o que se classifica como violência simbólica de gênero - tal  qual em "...nega do cabelo duro... pega ela aí, pega ela aí prá passar batom ... na boca e na bochecha", música sexista e racista, popular na época!                           

Na verdade, uma de nossas maiores preocupações era (e ainda é) o enfrentamento à violência de gênero contra as mulheres, particularmente a violência simbólica de gênero, que se infiltra por todo a nossa cultura, legitimando os outros tipos de violência. Por "violência de gênero", refiro-me a toda e qualquer forma de agressão ou constrangimento físico, moral, psicológico, emocional, institucional, cultural ou patrimonial, que tenha por base a organização social dos sexos e que seja impetrada contra determinados indivíduos, explícita ou implicitamente, devido à sua condição de sexo ou orientação sexual. Isso implica dizer que tanto homens quanto mulheres, independente de sua preferência sexual, podem ser alvos da violência de gênero. Contudo, em virtude da ordem de gênero patriarcal, "machista", dominante em nossa sociedade, são, porém, as mulheres e, em menor número, os homossexuais, que se vêem mais comumente na situação de objetos/vítimas desse tipo de violência.

Quando falamos de violência de gênero contra mulheres, pensamos mais de imediato em atos de violência física - agressões, espancamentos, estupros,  assassinatos -- perpetrados, geralmente, por seus companheiros, e que acabam estampados em manchetes nas páginas policiais jornalísticas. Essa é, sem dúvida, a mais chocante e revoltante forma de violência de gênero, posto que atenta diretamente contra a vida de uma pessoa, não sendo raros os casos em que ela passa impune.

A Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006, mais conhecida como "Lei Maria da Penha", trouxe um grande avanço no enfrentamento à violência de gênero contra mulheres, vez que, além de criminalizar esse tipo de violência  
-  que passava invisível na esfera doméstica e familiar
-  também reconheceu outras formas de violência, tais como a violência sexual, moral, psicológica, e patrimonial, como igualmente puníveis por lei.  Cabe lembrar, porém, que tanto as agressões físicas, quanto essas outras formas de violência e sua impunidade, são legitimadas pela ordem social de gênero que  caracteriza a nossa sociedade, a ordem de gênero patriarcal, ordem inscrita e perpetrada nas nossas instituições sociais, nos nossos sistemas de crenças e valores e no nosso universo simbólico, com ressonância nas relações interpessoais e na construção das nossas identidades e subjetividades enquanto homens e mulheres.

De fato, a violência de gênero se expressa com força nas nossas instituições sociais (falamos então de violência institucional de gênero) e, de maneira mais sutil, embora não menos constrangedora, na nossa vida cultural, nos atacando  (ou mesmo nos bombardeando) por todos os lados, sem que tenhamos plena consciência disso. Diariamente, ouvimos piadinhas, canções, poemas, ou vemo-nos diante de contos, novelas, comerciais, anúncios, ou mesmo livros didáticos (ditos científicos!), de toda uma produção cultural que dissemina imagens e representações degradantes, ou que, de uma forma ou de outra, nos diminuem enquanto mulheres.
Essas imagens acabam sendo interiorizadas por nós (até mesmo as feministas "de carteirinha"), muitas vezes sem que nos demos conta disso. Elas contribuem sobremaneira na construção de nossas identidades/subjetividades, diminuindo, inclusive, nossa auto-estima.

Isso tudo se constitui no que chamamos de violência simbólica de gênero, uma forma de violência que é, indubitavelmente, uma das violências de gênero mais difíceis de detectarmos, analisarmos e, por isso mesmo, combatermos.  Talvez   até mesmo porque o "bombardeio" é
tanto, de todos os lados, que acabamos ficando anestesiadas, inertes, impassíveis, incapazes de percebê-la,  bem como o seu poder  destruidor.  Na verdade, o mundo simbólico aparece como um grande quebra-cabeças a ser decifrado, difícil de abordar, vez que, como no caso das metáforas, ele se processa através de um encadeamento e superposição de símbolos e seus significados, ou de associações, transposições, oposições e deslocamentos.  Destrinchar esses processos é muitas vezes adentrar num labirinto, correndo atrás de um novelo que torce, retorce, rola, enrola e dá nós, difíceis de serem desatados.  Por isso mesmo, a  violência simbólica é sutil, mascarada, disfarçada e, assim, bastante eficaz.

Certamente, não é esse o caso da ?nova poesia baiana?, tal qual expressa nas letras do nosso cancioneiro popular contemporâneo. Ao contrário, não há nada de dissimulado nessas cantigas. Nelas, a imagem da mulher, de todas nós mulheres, é explicitamente aviltada, rebaixada, causando constrangimento naquelas que se prezam. Senão vejamos:

Em "Me Dá a Patinha", por exemplo, a mulher é abertamente chamada de ?cadela?, porque está supostamente disponível para todos:

O João já pegou
Manoel, pegou também
O Mateus engravidou,
tá esperando o seu nenem
Carlinhos, pegou de quatro
Marquinhos fez frango assado
José sem camisinha
Pego uma coceirinha
O nome del'é Marcela
Eu vou te dizer quem é ela
Eu disse
Ela, ela, ela é uma cadela
Ela,ela mais ela é prima de Isabela
Joga a patinha pra cima
One,Two,Three
Me dá, me dá patinha
Me dá sua cachorrinha
(sic)

Igualmente desrespeitosa em relação às mulheres é a cantiga "Ela é Dog", que segue a mesma linha  (... estilo cachorra, ela fica de quatro,  ela é dog, dog, dog, ....parede de costas), assim como "Rala a Tcheca no Chão" (rala a tcheca no chão, a tcheca no chão, a tcheca no chão, mamãe), sem esquecer de "Na Boquinha da Garrafa", onde se afirma que ...no samba ela gosta  do rala, rala, me trocou pela garrafa, não agüentou e foi ralar... vai ralando na boquinha da garrafa, sobe e desce na boquinha da garrafa, É na boca da garrafa...

Ressalto que não se trata somente dogosto deveras questionável desses versos, mas, sobretudo, da incitação e legitimação da violência física contra mulheres que eles expressam. Como nos versos, "...se o homem é chiclete, mulher é que nem Lata, um chuta, o outro cata...?, ou então, na já combatida "Tapinha de Amor":

Não era preciso chorar desse jeito
Menina bonita anjo encantador
Aquele tapinha que dei no seu rosto
Não foi por maldade foi prova de amor
A nossa briguinha foi de brincadeira
...
Não seja assim tolinha eu sei que tapinha de amor não dói
(sic)

Não custa lembrar que foram mais de 30 anos de lutas dos movimentos feministas  no país no
combate à violência de gênero contra mulheres, uma luta que logrou trazer a elaboração e aprovação da Lei Maria da Penha em agosto de 2006. Essa lei cria mecanismos para ?coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher?, assim destacando, em seus Artigos 2º e 3º:

Art. 2o
Toda mulher, independentemente de classe, raça, etnia, orientação sexual, renda, cultura, nível educacional, idade e religião, goza dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sendo-lhe asseguradas as oportunidades e facilidades para viver sem violência, preservar sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual e social.

Art. 3o
Serão asseguradas às mulheres as condições para o exercício efetivo dos direitos à vida, à segurança, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, à moradia, ao acesso à justiça, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à  cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária.

De acordo com a Lei Maria da Penha, uma Lei Federal, e, como vimos, também de acordo com a Constituição da Bahia, é dever do Estado combater a violência, assegurando às mulheres o direito ao respeito e dignidade enquanto seres humanos. O Projeto de Lei apresentado pela Dep. Luiza Maia vem regulamentar a intervenção do Estado nesse  tocante, dispondo sobre "a proibição do uso de recursos públicos para a contratação de artistas que, em suas músicas, danças, ou coreografias desvalorizem, incentivem à violência ou exponham as mulheres a situações de constrangimento."

Ressalte-se que não se trata aqui de cercear o direito de "livre expressão artística" de ninguém, já devidamente consagrada na Constituição Federal. Não se trata de fazer censura.  Longe disso!  Mas é necessário que o Estado não seja conivente com mensagens que façam a apologia da violência de gênero contra mulheres, utilizando verbas públicas - o dinheiro nosso e do nosso povo - para aviltar a nossa imagem!  Fazê-lo, ou seja, contratar com dinheiro público quem assim procede é legitimar a violência de gênero contra as mulheres.  É, pois, atentar contra a nossa carta magna, cabendo, pois, de nossa parte, a impetração de ações cíveis junto ao Ministério Público.

Espera-se, outrossim, que o Projeto de Lei em questão também tenha um papel  pedagógico.  Que ele venha a conscientizar mulheres e homens desta Bahia (e por que não, do nosso Brasil) da necessidade de combate à violência contra mulheres, hoje expressa, de forma tão vulgar e grosseira, no nosso cancioneiro popular.  Creio que é isso que minhas combativas companheiras do Fórum de Mulheres de Salvador, que comigo lutaram pelo avanço das nossas conquistas nos idos dos anos 1980, tinham também em mente quando sonhávamos com uma Bahia sem sexismo, sem racismo, e sem violência!

________________________________

[1]Uma primeira versão deste ensaio foi apresentada como contribuição aos debates sobre o Projeto de Lei No.19.137/2011, na Comissão da Mulher da Assembléia Legislativa da Bahia, em 24/08/2011.

sábado, 27 de agosto de 2011

Ministério da Saúde participa de ação para ampliar a visibilidade lésbica - DF

Expandir as discussões sobre a diversidade sexual feminina, na expectativa de assegurar o respeito e reconhecimento às ações afirmativas para mulheres lésbicas. Este é um dos objetivos do ‘Diálogo pela Visibilidade Lésbica - Questão de Justiça & Saúde’, que acontece na próxima segunda-feira (29), às 9h30, no auditório do Ministério da Justiça.
Promovem o evento a Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa do Ministério da Saúde, por meio do Departamento de Apoio à Gestão Participativa (Dagep), o Ministério da Justiça e a Secretaria de Políticas para Mulheres, por meio de sua Subsecretaria de Articulação Institucional e Ações Temáticas.
O dia 29 de agosto foi instituído como Dia Nacional da Visibilidade Lésbica a fim de tornar público esse segmento que, historicamente, esteve invisível. A data é uma referência à realização, em 1996, do I Seminário Nacional de Lésbicas (Senale), no Rio de Ja­neiro, evento que reuniu cerca de 100 lésbicas e mulheres bissexuais.
“A invisibilidade de lésbicas contribui para maior vulnerabilidade destas mulheres em relação à sua saúde, educação, trabalho etc. Diante da ausência de informações específicas, profissionais de saúde, justiça e segurança pública têm dificuldades de perceber as necessidades deste público e atendê-lo adequadamente”, pontua Júlia Roland, diretora do Dagep.
Superar a subnotificação de dados referentes à lesbofobia - violência contra lésbicas - é outra urgente demanda que será discutida durante o evento.
INDICADORES - Publicado pela Rede Feminista de Saúde em 2006, o ‘Dossiê Saúde das Mulheres Lésbicas - Promoção da Equidade e da Integralidade’ apresenta dados que evidenciam as desigualdades de acesso à saúde pelas lésbicas e mulheres bissexuais. O estudo mostra, por exemplo, que 40% das mulheres que procuram os serviços de saúde não revelam sua orientação sexual. Entre as que revelam não serem heterossexuais, 28% afirmam receber um atendimento pouco atencioso pelos médicos, e 17% acreditam que estes deixam de solicitar exames indispensáveis por considerarem desnecessário procedimentos mais detalhados.
No que se refere à realização do exame preventivo do câncer cérvico-uterino - Papanicolau, dados do dossiê demonstram que a proporção de procedimentos realizados em mulheres heterossexuais é de 89,7%, enquanto entre as mulheres lésbicas e bissexuais este indicador cai para 66,7%, mesmo em grupos com maior escolaridade e renda.

Serviço:
             
Diálogo pela Visibilidade Lésbica - Questão de Justiça & Saúde
Quando: 29 de agosto de 2011, às 9h30
Onde: Auditório do Ministério da Justiça
Esplanada dos Ministérios, bloco T, edifício Sede, 3º andar
Brasília - DF

Informações:    daniela.marques@saude.gov.br
maria.assirati@mj.gov.br

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Tour comunitário no Calafate - BA

(Clique na imagem para ampliá-la)

Desde 2009 o Coletivo de Mulheres do Calafate realiza uma homenagem a uma mulher da comunidade, pois temos muitas Histórias a contar.
2009 - Homenagem a D. Loura - nossa primeira professora, nos seus 100 anos de vida.
2010 - Homenagem a Maria da Conceição - liderança comunitária.
2011 - Homenagem a D. Dalva - resistência é sua História! Dona de um bar do Calafate, famoso pelo seu delicioso mocotó. (34 anos de bar)
 
Convidamos a tod@s para viver essa experiência no Calafate.
 
Programação:
 
9h - Tour Comunitário (concetração para inicio do roteiro no Espaço de Memória)
12h - Para quem desejar: homenagem à Dalva depois do tour e saborear um delicioso mocotó.
 

terça-feira, 23 de agosto de 2011

O jornalismo sexista (Jean Willys)

A cobertura jornalística do assassinato da juíza Patrícia Acioli, em Niterói (RJ), deixa claro que as mulheres ainda têm, no espaço público, a vida avaliada a partir de suas vidas privadas.
Na maioria das matérias (boa parte delas mera reprodução sem críticas nem acréscimos de uma matéria matriz, feita por um jornalão e por um telejornalão), os jornalistas analisam detalhes íntimos das supostas violências que Patrícia sofrera de seu namorado e praticamente a chamam de “mulher de malandro”, para usar uma expressão vulgar. Isso porque, segundo as matérias, a juíza teria retirado a queixa contra o namorado para, logo em seguida, retomar o relacionamento com o mesmo.
O que sua morte teria a ver com os meandros do seu namoro, que é uma questão pessoal? Absolutamente nada até que venha a se provar que a juíza foi vítima de um crime passional e não de uma execução sumária e cruel por conta de sua atuação contra milícias e grupos de extermínio integrados por policiais civis e/ou militares corruptos, como apontam os indícios.
Evidentemente, o desenrolar da investigação policial pode vir a apontar alguma relação entre os dois motivos. Mas as notícias dominicais não cuidaram disso. Sem sequer justificar a exposição da intimidade de Patrícia num suposto motivo passional para o crime chocante, as notícias simplesmente expuseram eventos da vida afetiva da juíza como que para transformá-la de vítima em culpada pelo próprio fim trágico.
Tratamento semelhante foi dado a Eliza Samudio, a moça que teve um filho com o ex-goleiro Bruno e cujo desaparecimento é atribuído a um crime bárbaro que teria, como mentor intelectual, o próprio Bruno. E também à estudante Geisy Arruda, que foi hostilizada por colegas da faculdade que freqüentava quando foi à aula com um vestido considerado pelos marmanjos curto demais. Em ambos episódios, as mulheres forma convertidas em culpadas pela violência de que foram vítimas por discursos misóginos mal disfarçados.
Desvalorizar as mulheres a partir de sua conduta na esfera privada, e/ou a partir dos usos que fazem de seus corpos, para que não ocupem os espaços de poder continua sendo uma das características da exclusão em uma sociedade que não superou o patriarcalismo histórico. Esse patriarcalismo também vigora na cobertura jornalística e é, por ela e nela, reproduzido. Nas palavras da antropóloga Debora Diniz, “a violência não é constitutiva da natureza masculina, mas sim um dispositivo cultural de uma sociedade patriarcal que reduz os corpos das mulheres a objetos de prazer e consumo dos homens”.
Outro exemplo – este aparentemente banal – do patriarcalismo que vigora na cobertura jornalística é a recusa, por parte da maioria dos jornalistas e comentaristas, em usar o termo “presidenta” para se referir a Dilma Rousseff sob o argumento que, apesar de correta, a opção pela forma feminina é “desnecessária e incomum”, ignorando, assim, o sexismo e machismo materializados e reproduzidos na prática linguística. Determinados temas da agenda doméstica de uma vítima podem e devem se tornar públicos, sobretudo quando a violência em questão não é de interesse de apenas uma mulher, mas corresponde a estruturas de poder que hierarquiza as identidades de gênero numa sociedade. É o caso da violência doméstica, que não pode mais ser tratada como “assunto de marido e mulher, no qual não se deve meter a colher”, para recorrer a outra expressão vulgar.
A cobertura jornalística precisa assumir sua parcela de culpa nesse machismo generalizado e complacente com as violências domésticas e públicas contra as mulheres. Uma coisa é tratar de forma pública problemas generalizados. Outra é expor a vida individual quando se parece estar diante de um fato que diz respeito à segurança pública e ao problema da violência urbana.
A dominação masculina vem se transformando ao longo dos tempos. A figura da mulher já não pertence mais inteiramente àquele lugar de subalternidade de 1949, quando a escritora feminista Simone de Beauvoir proferiu sua célebre frase “On ne naît pas femme, on le devient”. Porém, quando parte da imprensa se prontifica a devassar a vida íntima de uma juíza atuante e corajosa assassinada numa emboscada, vê-se que as mulheres se tornam mulheres num lugar ainda subalterno e que há muito que se avançar no enfrentamento do machismo e do sexismo.

domingo, 21 de agosto de 2011

Anteprojeto do Estatuto da Diversidade Sexual - DF

No dia 23 de agosto, às 10h30min, na sede da OAB Federal, em Brasília (SAS Quadra 5 - Lote 1 - Bloco M) a Comissão Especial da Diversidade Sexual do Conselho Federal da OAB, procederá a entrega do Anteprojeto do Estatuto da Diversidade Sexual.
Trata-se de um microssistema que concede direitos, criminalizada a homofobia e prevê políticas públicas.
O Estatuto tem 109 artigos e propõe a alteração de 132 dispositivos legais.
Na mesma oportunidade será entrega Proposta de Emenda Constitucional que:
- proíbe a discriminação por orientação e identidade de gênero
- concede licença-natalidade de 180 dias a qualquer dos pais
- assegura o casamento homoafetivo.
A Comissão é presidida por Maria Berenice Dias (RS) e integrada por Adriana Galvão Moura Abílio (SP); Jorge Marcos Freitas (DF); Marcos Vinicius Torres Pereira (RJ) e Paulo Tavares Mariante (SP). Membros consultores: Daniel Sarmento (RJ); Luis Roberto Barroso (RJ); Rodrigo da Cunha Pereira (MG) e Tereza Rodrigues Vieira (SP).
Participaram da sua elaboração as mais de 50 Comissões da Diversidade Sexual das Seccionais e Subseções da OAB instaladas, ou em vias de instalação, em todo o País e os movimentos sociais foram convidados a colaborar, tendo sido recebidas mais de duas centenas de propostas e sugestões.

30 anos de feminismo Latino-americano e do Caribe: desatar, despir e reatar


XII Encontro Feminista latino-americano e do Caribe
Bogotá, 23 a 26 de novembro de 2011


Caras Feministas
Recebam um abraço de ano novo e as melhores energias desde a Comissão da Coordenação Estratégica do XII Encontro Feminista Latino Americano e do Caribe. Estamos enviando esta primeira comunicação oficial sobre o Encontro porque queremos compartilhar com todas da Região uma informação mínima que nos parece urgente:
 
1.  Como muitas de vocês já sabem (porque nos reunimos, escrevemos, ou estão nos apoiando ao nível regional), o XII Encontro Feminista será realizado em Bogotá, Colômbia de 23 a 26 de novembro de 2011.  

2.  Temos trabalhado desde quando fomos designadas no México para realizar este Encontro, organizadas em 6 comissões (financiamento, logística, comunicações, memória, ligação regional, cultural e metodologia/tema: metotema), temos avançado na obtenção de alguns recursos, na definição da cidade onde queremos que se realize o Encontro, nas opções de hotéis, no nome, imagem do Encontro e linhas temáticas, enfim, nas coisas que necessitamos para   “nos encontrar”.

3.   Não temos pronto nosso site, mas esperamos que esteja em funcionamento no mês de fevereiro. Por isso, este comunicado é a chave para divulgarmos este encontro, usando para tal divulgação todas as listas que temos e agradecemos antecipadamente a cada uma que repasse tal informação. Temos um endereço eletrônico no qual podem enviar suas perguntas e que por enquanto será o nosso meio de comunicação, o email é: 12encuentrofeminista@gmail.com

4.       Uma vez que esteja pronto o site circularemos periodicamente boletins informativos com todas as informações relevantes sobre o andamento do Encontro, e claro, as dificuldades que surgem e que consideramos essenciais ao conhecimento de todas. Neste site receberão informação sobre as inscrições, recursos, metodologia, temas, logística, memória, rendição de contas, entre outras.

      Esperamos que este ano seja cheio de boas coisas e que nos encontrar nos permita uma vez mais avançar desde o feminismo numa agenda política que promova a dignidade, a liberdade das mulheres e que respeite a igualdade, a diversidade e a diferença.

Um grande abraço,

Ana Cristina González Vélez
Raquel González Henao
Sandra Montealegre
Beatriz Quintero
Cris Suaza
Marta Tamayo
Florence Thomas

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Prefeitura inaugura Centro Integrado da Mulher


XIV Concurso de projetos do Fundo ELAS : inscrições até 12 de setembro

O fundo ELAS divulga seu XIV Concurso de Projetos, com o tema “Desenvolvimento Institucional de Organizações e Grupos de Mulheres e Jovens Negras no Nordeste do Brasil”.
Podem participar dessa edição organizações e grupos que desenvolvam ações contra todas as formas de racismo e promovam os direitos humanos.
O edital tem como objetivos fortalecer institucionalmente as organizações e os grupos, melhorar as condições socioeconômicas das mulheres e das meninas negras do Nordeste e garantir a implementação e o exercício de leis que beneficiam as mulheres e meninas negras, como o acesso à terra, ao crédito, à previdência, à serviços de infraestrutura, entre outros.

Acesse o edital e o formulário para envio de projeto em:
http://fundosocialelas.org/concursos2011-XIV.asp
O prazo para envio de projetos se encerra em 12 de setembro de 2011.
Fonte:  http://www.agenciapatriciagalvao.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=2030&catid=104

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Sessão Especial Dia da Visibilidade Lésbica - BA

(Clique na imagem para ampliá-la)

SPW lança publicação com os trabalhos apresentados no Diálogo Latino-americano sobre Sexualidade e Geopolítica


capa1Já está no ar o e-book Sexualidade e política na América Latina: histórias, interseções e paradoxos, lançado em 8 de julho de 2011, durante a sessão Dinâmicas regionais em sexualidade e política: tópicos comuns e diferenças, realizada pelo Observatório de Sexualidade e Política (SPW) durante a VIII Conferência do IASSCS, que ocorreu em Madri, Espanha.
Com conteúdos em português e espanhol, a publicação reúne os trabalhos apresentados durante o Diálogo Latino-americano sobre Sexualidade e Geopolítica, realizado no Rio de Janeiro, entre 24 e 26 de agosto de 2009. Este encontro fez parte da série de três debates regionais sobre sexualidade e geopolítica, organizada pelo Observatório de Sexualidade e Política (SPW) entre 2009 e 2010. Os outros dois diálogos aconteceram na Ásia (Hanói, no Vietnã, março de 2009) e na África (Lagos, na Nigéria, outubro de 2010).
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Participantes do Diálogo Latino-americano, no Rio de Janeiro, em agosto de 2009
Um dos objetivos do Diálogo Latino-americano sobre Sexualidade e Geopolítica foi reunir pesquisadoras/es, acadêmicos/as e ativistas para discutirem os desafios das políticas regionais contemporâneas em termos de sexualidade, política, direitos humanos, ciência e religiões. A partir destas temáticas, o Diálogo Latino-americano foi composto pelas seguintes sessões: Sexualidade, estado e processos políticos; Ciência e política sexual; Sexualidade e economia: visibilidades e vícios; e Religião e política sexual.
O encontro reuniu cerca de 50 participantes de diferentes países da América Latina e cada sessão contou com a apresentação de um paper panorâmico sobre a temática em questão, seguida de painel em que pesquisadores/as compartilharam análises de estudos em andamento na região e comentaristas apresentaram considerações sobre as contribuições.
Faça o download da íntegra da publicação Sexualidade e Política na América Latina: histórias, interseções e paradoxos (pdf).
Se preferir, confira o sumário e faça download dos papers, artigos e comentários apresentados de acordo com cada uma das sessões.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

I Seminário Nacional de Jovens Feministas - SP

As Jovens Feministas de São Paulo, em parceria com a Associação Zulu Nation Brasil e a Associação Hip Hop Mulher, com o apoio institucional da ONU Mulheres, realizará na cidade de São Paulo, entre os dias 01 a 03 de setembro de 2011, o I Seminário Nacional de Jovens Feministas.

I Seminário Nacional das Jovens Feministas reunirá 30 lideranças políticas jovens mulheres de mais de 15 Estados, atingindo as 5 macro regiões do Brasil, com o objetivo central de promover a formação e o empoderamento das mulheres jovens, através de um intercâmbio de experiências entre os grupos, coletivos, organizações e ativistas jovens feministas das mais distintas realidades, construindo ações que visam o fortalecimento dos canais de participação e discussão das jovens feminista sobre os principais temas de sua conjuntura, visando fortalecer estas jovens para os processos das Conferencias de Mulheres (III CNPM) e de Juventude (II CNJ).

Se você é uma jovem (com idade entre 15 a 29 anos) feminista e participa de algum coletivo (ou faz algum trabalho com jovens em sua comunidade) se inscreva em nosso I Seminário Nacional de Jovens Feministas preenchendo a Ficha de Inscrição (em anexo) até dia 05 de agosto (sexta-feira).


As 30 jovens selecionadas entre as inscritas terão as despesas com transporte (passagens de avião, ônibus e/ou translado), hospedagem e alimentação totalmente pagas, garantindo sua permanência durante todos os dias da atividade.


Os nomes das selecionadas serão divulgados no dia 12 de agosto no site www.jovensfeministasdesp.blogspot.com 

Dúvidas, escreva para nós: jovensfeministasdesp@gmail.com