O I Encontro Estadual de Mulheres Quilombolas do Piauí acontece nesse mês de maio. O evento começa no dia
13 de maio e está previsto para encerrar no dia 16, na comunidade
quilombola Contente, município de Paulistana. A comunidade,
possui vários marcadores históricos da escravidão, restos de fazendas
daquela época, troncos, e materiais que eram utilizados na escravização
do nosso povo negro. O tema do encontro é: mulheres quilombolas
combatendo os impactos sociais, ambientais e culturais. A expectativa é
participem mais de 400 pessoas.
A Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Estado do Piauí – CECOQ-PI foi iniciada em 1989 por um pequeno grupo que ao longo destes anos vem se ampliando. O trabalho tem como objetivos principais: Ressignificar a história dos negros e negras no Brasil, preservar e valorizar a cultura afro-pindorâmica no Estado do Piauí e combater o racismo, o preconceito e a violência em geral e a luta em defesa dos direitos do povo quilombola no Piauí e no Brasil.
Para isso, a CECOQ-PI vem trabalhando principalmente através da organização e formação das comunidades, mantendo permanentemente um trabalho de formação política e social que envolve crianças, adolescentes, jovens, adultos da 3º idade, homens e mulheres de todas as comunidades identificadas pela CECOQ-PI no Estado do Piauí.
IMPACTOS: O PORQUÊ DO TEMA
A cidade de Paulistana não é um caso
isolado. Assim como vários municípios do Piauí e muitos estados do
Brasil, Paulistana passa por obras do (PAC I) Programa de Aceleração do
Crescimento, um programa do governo federal brasileiro que engloba um
conjunto de políticas econômicas . Ao todo, os impactos referentes a
esse Programa, no Piauí, tomarão proporções ao tamanho do estado de
Sergipe, segundo estudos da Professora Drª Maria Suely Rodrigues de
Sousa, Coordenadora do Projeto de pesquisa e extensão "Conhecimentos
tradicionais e quilombolas na conservação da biodiversidade piauiense
numa perspectiva sócio-jurídica", da Universidade Federal do Piauí.
Em Paulistana, o maior impacto está sendo o
da construção da Ferrovia Transnordetina. Com a obra da Ferrovia, a
comunidade já está sendo literalmente atravessada. De um lado estão as
casas e do outro está a principal fonte de água da comunidade
quilombola, um açude, que fora construído com o intuito de minimizar o
clima semi-árido. A ferrovia é bastante alta, não é certa com o chão, e
funcionará por cima de um aterro que passa no meio do açude. Depois de
construída ela será protegida por cercas, as quais a comunidade não
poderá atravessar para ter acesso à água, num lugar muito seco e com
bastante dificuldade de acesso à mesma.
No atual momento, a via já foi construída e
só resta colocar os trilhos. Quem está fazendo o processo de
indenização das famílias é o governo do estado, ocasionando outro
impacto social. O governo estadual não tem nenhuma medida mitigadora
para esse impacto e segundo o Tribunal de Justiça do Estado do Piauí, as
indenizações '' não pagam nem o papel pelo qual está sendo feito''. As
indenizações vão de 3 mil a apenas 6 reais em alguns casos. A professora
Suely avalia essa situação como uma violação aos direitos humanos da
família.
Somado a isso, a comunidade Contente, que
estava em processo de titulação das áreas da comunidade, está agora, ao
mesmo tempo, passando por mandado de deslocamento compulsório. Suely
explica: ''Um braço do governo está dando de um lado e retirando do
outro''.
Nesse contexto, as mulheres de Paulistana
estão sendo impactadas de modo diferenciado, por isso a importância
desse Encontro. '' Com as obras da Ferrovia, haverá muita migração e a
mulher responde por si e por toda a unidade familiar. Como homens e
mulheres são assistidos diferenciadamente por esses impactos, o objetivo
é discutir isso entre as próprias mulheres, o que está acontecendo e o
que virá. Refletir sobre a auto organização das mulheres negras rurais
bem como seus marcadores da identidade negra'', defende a pesquisadora
Maria Suely que estará presente no Encontro.
OBJETIVOS
O trabalho da CECOQ tem contribuído tanto para a ressignificação da identidade e da autoestima do povo negro, quanto para desenvolver as potencialidades dos (as) participantes, favorecendo assim a profissionalização e fortalecendo as comunidades.
Todo este trabalho tem como enfoque o aspecto cultural, ambiental e social das comunidades e a geração de oportunidades, principalmente para as mulheres que sofrem duplicidade de discriminação.
O I Encontro Estadual de Mulheres Quilombolas do Piauí tem também como meta garantir às mulheres quilombolas do Piauí a oportunidade de discussão para o empoderamento da mulher na sociedade para que as mesmas ocupem seus espaços e participem com poder de decisão. No Encontro também serão retiradas as delegadas e elaborada a construção de propostas para as mulheres quilombolas do Piauí. Estas serão apresentadas no Encontro nacional das mulheres quilombolas que será em Setembro de 2012 em Brasília - DF.
FONTE: Correio Nagô
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