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terça-feira, 1 de março de 2011

Calouros, trotes e a homofobia cultural

sábado, 26 de fevereiro de 2011

*Por Carlos Bem

Por uma Universidade SEM HOMOFOBIA!
Vésperas de carnaval e nossa cidade está lotada. Mas, não me refiro aos turistas que borbulham nossa economia e faz do carnaval uma das épocas mais promissoras para a economia local. Refiro-me a volta às aulas na universidade que também movimenta a cidade no início do ano com o progressivo número de universitários e com a vigorosa expansão através do REUNI.

Como de praxe início das aulas automaticamente lembra estudantes sujos de tinta pedindo um trocadinho nos sinais, bares, comércio, enfim, eles estão em todos os lugares fruto dos trotes aplicados pelos veteranos com o intuito de arrecadar grana para fazer festa e socializar com toda a turma. Mas, quando se trata de trote quero falar de uma situação específica: o trote solidário.

Essa modalidade tem dado muito certo e atraído adeptos nas universidades. Tem idéia boa de todo tipo. O objetivo é receber calouros, socializar, integrar e incluir esses calouros na vida acadêmica e de quebra fazer uma ação social, humanista, solidária. Típica da nossa juventude. O problema é quando esse trote deixa de ser solidário com os próprios calouros. Quero focar especificamente no trote cujo objetivo é a doação de sangue. Todos sabem o quanto os bancos de sangue no Brasil precisam de doadores e o quanto eles estão escassos de estoque. Doar sangue é doar vida e deveria ser um direito de todos os cidadãos salvar a vida de outras pessoas, deveria, mas, não é isso que na prática acontece.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) por meio da RDC153 – uma norma técnica da agência – proíbe gays e bissexuais de serem doadores de sangue. A norma que ganhou força na década de 80 quando a Aids causou terror e erroneamente foi chamada de “câncer gay” e “peste gay” vigora até hoje, mesmo a Aids tendo outro perfil epidemiológico e os avanços das políticas públicas apontarem que não é mais possível falarmos em grupo de risco e, sim, comportamento de risco, de vulnerabilidade que não está diretamente relacionada com a orientação sexual de qualquer pessoa. Portanto, o fato de vigorar ainda nos dias atuais uma norma tão excludente nos leva a entender que o motivador da sustentação da norma só pode ser a homofobia cultural – aquela existente no nosso pensamento, na nossa forma de entender a vida – e institucional – aquela grudada nas instituições estatais, reflexo da homofobia cultural arraigada nos nossos pensamentos - que deveriam impulsionar a igualdade entre todos e o bem comum.

Educação inclusiva
A realidade é que enquanto os centros acadêmicos (CA), diretórios acadêmicos (DA) e diretório central de estudantes (DCE) estimulam a realização do trote solidário com a doação de sangue, temos milhares de homossexuais calouros inseridos no ensino superior que não poderão participar do trote cujo objetivo era incluir esses calouros. É o momento dos CAs, Das e DCEs pensarem qual a sua função na universidade: estar do lado dos estudantes, inclusive dos homossexuais, ou estar do lado de um sistema opressor e homofóbico? Nosso papel, enquanto representantes dos interesses dos estudantes, é estar do lado da juventude, e dos jovens homossexuais, ou estar do lado da força opressora causada por uma cultura machista, racista, homofóbica e opressora?

É o momento de pensarmos trotes solidários sendo solidários com todos os calouros, respeitando suas especificidades e todas as diferenças. Os trotes precisam ser inclusivos e pensar primeiro nos universitários. Se a opressão e exclusão acontecem no primeiro contato do calouro gay com seu CA, DA e DCE o que o mesmo enfrentará dentro da universidade durante toda sua vida acadêmica? A Mudança acontece no cotidiano e a derrubada da norma da Anvisa vai acontecer quando todos estiverem solidários e unidos e não estimulando a segregação por orientação sexual.

Por trotes solidários que incluam e não segreguem os calouros homossexuais. Por trotes que respeitem os direitos humanos. Por trotes sem machismo, racismo, xenofobia e homofobia!

*Militante do Movimento Mudança na UNE, graduando em Comunicação Social - Jornalismo na Universidade Federal de São João del-Rei, coordenador do Movimento Gay da Região das Vertentes em São João del-Rei(MG), integrante do Fórum pela Saúde e Direitos Humanos LGBT de Minas Gerais.

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